sábado, 31 de julho de 2010

O segredo de Aurora

Marta havia se mudado com sua família para uma casa na periferia. A casa era bem antiga, mas era muito espaçosa, havia quartos que não iria usar e outros cômodos que nem havia entrado. Depois de terem colocado as coisas no lugar, todos foram para a cozinha, mas Marta decidiu dar uma olhada em um quarto que havia permanecido fechado.
Acendeu a luz e se deparou com um belo lustre muito antigo, percebeu que aquele lustre precisava de seis lâmpadas, e todas elas estavam acesas. Ficou muito assustada! Como poderia em uma casa fechada há mais de 8 anos (desde a época em que sua tia Aurora faleceu) todas as lâmpadas daquele lustre tão bonito ainda estarem acesas e aquele quarto tão bem cuidado cheirando a limpo?
Aquela casa havia sido fechada por determinação judicial, a tia de Marta uma solteirona da Receita Federal, aproximadamente 60 anos, foi encontrada morta bem ali naquele quarto. O inquérito da partilha de bens durou anos e anos até que, por decisão da justiça, a casa ficou para a mãe de Marta.
Marta começou a caminhar por aquele imenso quarto e abrir as portas do guarda roupa. Descobriu que uma das portas dava passagem para o banheiro, ficou ainda mais impressionada quando viu em cima da pia aquele vaso com margaridas frescas, e o cheiro do sabonete de erva doce pairando no ar, o cheiro e as flores preferidas de sua tia Aurora.
A menina saiu surpresa e pensativa, mas não contou o que viu a ninguém, pois apesar do susto havia gostado daquele lugar. Todas as manhãs ao acordar, a primeira coisa que Marta fazia, assim que sua mãe saia para o trabalho, era dar uma olhadinha no quarto encantado. Sempre encontrava o quarto limpinho, as toalhas limpas, nenhum cheiro de mofo, tudo em perfeita organização. As margaridas trocadas, roupas bem passadas no cabide, e a cortina entreaberta deixava entrar uma pequena fresta de luz do sol, o que iluminava e trazia mais beleza ao quarto.
Lembrava-se que sua tia era muito bonita e inteligente, que teve uma grande paixão por muitos anos, mas ninguém nunca conheceu o rapaz, não deve ter dado certo, pois assim que sua irmã mais velha se casou (a mãe de Marta), Aurora ainda era nova e se tornou uma mulher muito triste, viveu sozinha para trabalhar e cuidar dos pais. Nasceu ali naquela casa na periferia, de onde nunca quis se mudar, mesmo tendo condições financeiras para morar em um bairro nobre. Mas sua mãe nunca quis contar o motivo pelo qual havia morrido, evitava o assunto e Marta sempre ficou curiosa.
Passaram anos e anos e Marta persistiu nas visitas ao quarto da tia, conseguiu esconder aquele segredo de todo mundo, se sentia bem ali, tranquila e feliz, pois percebia a presença da tia que amava tanto e que não teve muito tempo para conviver. Até que um dia, junto com as margaridas, Marta encontrou um bilhete que esclarecia a morte da tia Aurora. Admirada com o que leu, Marta desvendou o mistério: sua tia havia cometido um suicídio, pois sofria do mal de amor. Percebeu então porque sua mãe evitava falar do assunto. A grande paixão da vida de Aurora, era o pai de Marta, o marido de sua irmã.

Maria de Fátima - 308

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